terça-feira, 9 de março de 2010

VOTE NO HUGO

Um dos fatos mais interessantes na questão religião X ciência é, sem dúvida, a retração da Igreja Católica e a minimização de seu poderio sobre a sociedade. Todos sabem que há algumas décadas atrás era a Igreja que ditava as regras, mandava e desmandava nos Estados. Assim, o próprio Estado confundia-se com a Igreja. Em razão disso, milhares de estudiosos e cientistas foram mortos por ousarem discordar dos "dogmas divinos". Todavia, é possível perceber que hoje, as coisas estão um tanto diferentes.

Inevitavelmente, o avanço da ciência acabou por diminuir o poderio da Igreja ,a qual, além de ter perdido controle sobre o Estado, passou a ter explicar de forma um tanto diferenciada "suas super historinhas divinas". Há alguns séculos atrás, praticamente ninguém duvidava que Deus havia criado Adão e Eva conforme descrito em gênesis. Após a teoria da evolução de Darwin, porém, os próprios cristãos que viram-se um tanto quando confusos com a historinha que lhes fora contada, adaptando um pouco o ato de criação. Não se trata mais da criação pura e simples do homem (criacionismo), trata-se agora do chamado design inteligente, teoria que procura conciliar Deus e o próprio surgimento da vida.

Outras histórias que eram tidas como verdades absolutas hoje estão sendo vistas como simples parábolas. São vários os fatos duvidosos e curiosos descritos na bíblia, tais como existência da arca de Noé, a separação das águas, a estrela de Belém, o dilúvio, fora Abraão que viveu por 175 anos, Isaac por 180 anos, Jacó por 147 anos e etc. Ora, até mesmo os crentes por vezes não acreditam nessas historinhas. O que se dirá dos outros. Para eles, o que não pode mais ser explicado vira uma parábola e assim por diante.

Quanto mais a ciência evolui, mais a Igreja reconta os acontecimentos divinos. É claro que existem aqueles que acreditam fielmente na bíblia, todavia, é fácil perceber que estão sendo aceitas novas explicações para os mistérios do universo e da vida. E isso não é coincidência visto que as religiões existem justamente para explicar fatos desconhecidos para os simples mortais. Ainda que as religiões tenham perdido um pouco do seu “mercado”, não há dúvidas que seguem firmando os passos daqueles que não são nada sem o Senhor.

Abaixo segue uma pequena parábola sobre o livre arbítrio de que tanto gostam os crentes.


VOTE NO HUGO! de Tim Gorski

Hoje de manhã alguém bateu na minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse

João: Olá! Eu sou João, e esta é Maria.

Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-o para vir votar no Hugo com a gente.

Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e por que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.

João: Se você votar no Hugo, ele lhe dará um milhão de dólares, e se não, ele te cobre de pancada.

Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?

João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer te dar um milhão de dólares, mas isso só é possível se você votar nele.

Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, entao por que ele preisa ser eleito? E por que ele...

Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dólares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?

Eu: Bom, talvez, se for pra valer, mas...

João: então venha com a gente votar no Hugo.

Eu: vocês já votaram no Hugo?
Maria: Ah, claro, e...

Eu: E vocês já receberam o milhão de dólares?

João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.
Eu: então por que vocês não saem?

Maria: Você só quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele te cobre de pancada.

Eu: Vocês conhecem alguém que votou no Hugo, saiu da cidade e ganhou o dinheiro?

João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho
certeza de que ela ganhou o dinheiro.

Eu: Você não falou com ela depois disso?

João: Claro que não, o Hugo não deixa.

Eu: Então por que você acha que ele vai te dar o dinheiro se você nunca falou com alguém que conseguiu o dinheiro?

Maria: Bom, ele te dá um pouquinho antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prêmio de loteria, pode ser que você acha uma nota de cinquenta na rua.

Eu: E o que isso tem a ver com o Hugo?

João: O Hugo tem uns 'contatos'.

Eu: Sinto muito, mas pra mim isso parece um golpe maluco.

João: Mas é um milhõ de dólares, você vai arriscar? E lembre, se você não votar no Hugo, ele te cobre de pancada.

Eu: Talvez se eu pudese ver o Hugo, falar com ele, pegar os detalhes diretamente com ele...

Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.

Eu: Então como vocês votam nele?

João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta pro Hugo.

Eu: Quem é Carlos?

Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou levá-lo pra jantar algumas vezes.

Eu: E você simplesmente acreditou no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?

João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tem uma cópia aqui, veja você mesmo.

João me entregou uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho "Do punho de Carlos". Havia onze items ali:

1. Vote no Hugo e ele lhe dará um milhão de dólares quando você sair da cidade.
2. Use álcool com moderação.
3. Cubra de pancadas quem não for como você.
4. Coma bem.
5. O próprio Hugo ditou esta lista.
6. A lua é feita de queijo verde.
7. Tudo que o Hugo diz está certo.
8. Lave as mãos depois de ir ao banheiro.
9. Não beba.
10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.
11. Vote no Hugo, ou ele te cobre de pancada.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.

Maria: Hugo não tinha papel.

Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.

João: Claro que é, o Hugo ditou.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.

Maria: Não agora, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.

Eu: Pensei que voês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?

Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.
Eu: Como você sabe?

Maria: O item 7 fala: "tudo que o Hugo diz está certo". Pra mim isso é suficiente.
Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.

João: De jeito nenhum! O item 5 fala: "o próprio Hugo ditou esta crta". Além disso, o item 2 fala üse 'lcool em moderação", o item 4 diz "coma bem", e o item 8 diz "laave as maos depois d ir ao banheiro". Todo mundo sabe que isso é certo, então o resto deve ser verdade também.

Eu: Mas o item 9 diz "não beba", o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que "a Lua é feita de queijo verde", o que está simplesmente errado.

João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então nao pode ter certeza.

Eu: A ciência já estbeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas...

Maria: Mas eles nao sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderia muito bem ser queijo verde.

Eu: Não sou um perito, mas acho que a idéia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exatamente como a Lua foi formada no tem nada a ver com ela ser feita de queijo.

João: Ahá! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!

Eu: Sabemos?
Maria: Claro, o item 5 diz isso.

Eu: Você está dizendo que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que 'o Hugo está certo porque ele diz que está certo'.

João: AGORA você está entendendo! É tão bom ver alguém entender o jeito de pensar do Hugo!

Eu: Mas... ah, dexa pra lá. E que história é essa com as salsichas?

João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.
Eu: Mas então pode comer hambúrguer sem pão? E bratwurst?

João: Peraí, peraí. Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses detalhes para os peritos profissionais no Hugo e sus regras.

Eu: E se não tiver pão?
João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.

Eu: Sem molho? Sem mostarda?

João (Gritando, enqunto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!

Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?
Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.
João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso...

Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!

João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo cobrir você de pancada, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho!

E assim João arrastou Maria pra o carro, e foram embora.

Um comentário:

  1. muito grande, qr dizer.... muito muito grande..
    faz assim q fica melhor
    http://guildadotexugo.blogspot.com/

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